quarta-feira, 31 de agosto de 2011

REGRESSO A UMA TERRA SEM REGRESSO

A impressão mais "dramática" que levo dos dias em que estive na terra-mãe Penacova foi o crescente abandono dos campos que, um pouco por toda a parte, sem distinção de aldeias, se verifica. Tudo numa lenta agonia de silvas e matos, de silêncios, com exceções que nem sempre confirmam uma regra sem retorno aparente.
Por cima das aldeias, pressentem-se mais fantasmas de pinheiros e pinhais onde o vento soprou murmúrios que só os pinheiros entendiam e entendem, serras com partes rotas, como se fossem vestidas por trapos com buracos, roupa com defeito ou má costura.
Nas aldeias cada vez menos hortas porque as hortas estão no supermercado, mais gente a caminhar à noite, porque gorda, de colesterol, de coração acelerado e os médicos a avisar exercício físico e as receitas com linhas de medicamentos empilhados ao balcão das farmácias.
Não se veem jovens porque estão presos aos computadores, às consolas, ausentes dos campos porque os pais lhes explicaram que não haveriam de sujar as mãos na castanha indignidade da terra que, dizem, os oprimiu e afinal é da terra que tudo vem e que com a passagem dos anos, o ciclo se fecha sem um vintém de piedade sobre as vidas.
Não gosto desta "modernidade" que um pseudo-urbanismo mal edificado trouxe à realidade. Não há discursos nem palavras que apaguem as perdas ou disfarcem a pobreza galopante dos dias e das vidas.
Não há progresso sem um regresso à terra.
O tempo o confirmará, desde que não fique demasiado tarde!
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Nota: Texto original (manu)escrito esta tarde, a verde, numa folha improvisada e numa fila de espera, conforme a foto atesta.




2 comentários:

Anónimo disse...

É de salutar o regresso do caro amigo A. Luís ao serviço (parece que a clientela reagiu mal a esta, merecida, rotação estival...). Vamos ver o que nos reserva esta nova temporada na taberna!...

António Catela disse...

Tão dura realidade vista por quem sofre, por quem tão bem vê, por quem continua a sonhar e do sonho procura tirar alimento para a vida. Palavras que magoam de tão duras e cruas, mas que são a pura realidade e que a alguns fazem pensar.Quem as lê não pode ficar indiferente, perante o que nos está a acontecer! Será possível que não se pare para pensar nisto?
Será que ainda estamos a tempo de mudar as coisas?
Será que os nossos filhos vão continuar neste caminho?
Há que procurar soluções para estas perguntas...e tantas outras!

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