E ao terceiro dia Penacova ressuscitou (e o Mundo, enfim, respirou)

À hora a que escrevo este texto há povoações no concelho de Penacova que estão há quatro (!) dias sem luz. No meu bairro, foram quase 3, sem energia e sem água. Sábado, domingo e a maior parte de segunda-feira mergulhado numa viagem ao fascinante mundo do antigamente. Um antigamente que, no caso dos penacovenses (como na maior parte do território rural português) não implica um esforço assim tão grande de memória.

Voltei a aprender a lavar-me por partes, que significa, mais coisa menos coisa, aproveitar a água com que lavamos a cara para lavar os pés e por aí adiante, tendo sempre cuidado com a ordem com que vamos passando o corpo por água. Uma verdadeira tortura.

Percebi que, nestas circunstâncias, ficamos literalmente sós, sendo que a proteção civil só nos faculta inutilidades por rádio ou telefone e o poder local não está, afinal, assim tão próximo. Ninguém nos presta informação sobre a forma de nos organizarmos/adaptarmos a uma situação tão delicada, até porque 3 dias não são 3 horas.

Aprendi a dar o devido valor à água, enquanto a acartava da fonte mais próxima, sob chuva cerrada. Abrir a torneira tornou-se um gesto tão mecânico que já me tinha feito esquecer os milhares de metros cúbicos que acartei para casa, diretamente do chafariz (situado frente à casa do Sr. Mário Laço) durante a minha infância.

Confirmei que os chineses têm literalmente tudo que é preciso nestas e noutras alturas. Velas, lanternas, pilhas…a qualquer hora do dia, faça chuva ou faça sol. A sobrevivência da espécie não atende a protecionismos económicos.

Concluí que, por mais fugidia que possa ser a nossa relação com a televisão ou com a internet, é impossível escapar à ressaca de uma prolongada abstinência.

Nota: Se acharem que este blog tem alguma piada vão votando diariamente na Taberna (ver logótipo à esquerda) na categoria Humor/Sátira. A luta por um lugar no pódio vai ser intensa até ao próximo sábado.