terça-feira, 27 de novembro de 2012

Reviver o passado no Casal de Santo Amaro

 Foto: José Carlos Salgueiro

Tenho memórias muito vivas de ver os fornos da cal do Casal em funcionamento, sobretudo quando ia para a escola, em Penacova, logo de manhã cedo.
Lembro-me muito bem de ver a tremenda coluna de fumo que se erguia no céu e mesmo quando o tradicional nevoeiro do rio subia o vale até à Espinheira, ela distinguia-se do cinzento claro reinante.
Muitas manhãs gélidas e nelas os homens que tratavam da cal que se tornava famosa para caiar muros e casas, ou para juntar ao sulfato para "sulfatar/curar" videiras e laranjeiras, conferindo às árvores um tom azulado.
O forno tapado, alimentado a rama de eucalipto, encavalitada por baixo de um telheiro, homens sujos pingando suor, um trabalho duro mas que era feito, custasse o que custasse..
Depois, como era criança, era uma surpresa cada vez que via as pedras de cal feitas, a desfazerem-se na água fria e a torná-la tão quente que nenhuma mão se lhe devia chegar por via das queimaduras, era um momento de magia que nenhuma explicação conseguia fazer-me esmorecer... E dizia o meu pai que respirar os vapores que a reação da cal com a água produzia, "limpava os pulmões"!
Por isso, foi com enorme agrado que vi a recente reconstituição e reativação de um forno da cal, no Casal de Santo Amaro, às portas de Penacova, quanto mais não seja por uma vez.
Para as gerações atuais, que nunca viram este acontecimento, talvez lhes tenha ficado a perceção de um trabalho duro, que foi feito durante muitos anos por homens e certamente mulheres de fibra, que foi sustento de famílias, que foi quase uma indústria, das poucas que Penacova tinha.


Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails