A
política internacional faz-se (sempre) nas entrelinhas. Existe, obviamente, um
guião oficial ou, se quiserem, uma narrativa escrita para as agências
informativas, mas essa consome-a quem, acriticamente, se deixa embalar com
alguma facilidade pelos títulos (headlines)
ditados para um consumo politicamente mais correto.
E
diz-nos essa bonita narrativa, todos os dias, que a causa da guerra na Síria é
o despotismo do seu governo, que vem negando aos seus habitantes os mais básicos
direitos de cidadania Daí que os rebeldes reajam, pegando em armas. Esta visão
romântica do conflito, se tivesse uma unha de realismo, seria replicável em
muitos outros regimes do médio oriente, que se levantariam em barda pela
democracia. Era bonito, lá isso era.
É pena que as coisas não sejam assim tão simples. O
regime sírio é obviamente despótico, como são a Arábia Saudita, o Koweit, os
Emirados, entre outros que povoam o território entre os mares Vermelho e
Cáspio. Mas, se fizer um esforço para fugir ao comentário do óbvio ou à lágrima
inconsequente, com facilidade encontro proscritas fontes de informação, que me
obrigam a ler a guerra civil síria como uma coisa que vai mais de fora para
dentro.
Como
disse aqui há 3 meses, o regime sírio cairá. Não pela democracia (who cares?), nem sequer pelos interesses
económicos, que, estando sempre por perto, perdem aqui relevância. Cairá porque,
quem manda (de fora) precisa da Síria para chegar ao Irão. Pede-se à Síria que
carimbe o passaporte para oriente. É esse, por agora, o seu único papel. E vai
cumpri-lo.
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