sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Síria não interessa nada (II): todas as guerras têm um guião

A política internacional faz-se (sempre) nas entrelinhas. Existe, obviamente, um guião oficial ou, se quiserem, uma narrativa escrita para as agências informativas, mas essa consome-a quem, acriticamente, se deixa embalar com alguma facilidade pelos títulos (headlines) ditados para um consumo politicamente mais correto.

E diz-nos essa bonita narrativa, todos os dias, que a causa da guerra na Síria é o despotismo do seu governo, que vem negando aos seus habitantes os mais básicos direitos de cidadania Daí que os rebeldes reajam, pegando em armas. Esta visão romântica do conflito, se tivesse uma unha de realismo, seria replicável em muitos outros regimes do médio oriente, que se levantariam em barda pela democracia. Era bonito, lá isso era.

É pena que as coisas não sejam assim tão simples. O regime sírio é obviamente despótico, como são a Arábia Saudita, o Koweit, os Emirados, entre outros que povoam o território entre os mares Vermelho e Cáspio. Mas, se fizer um esforço para fugir ao comentário do óbvio ou à lágrima inconsequente, com facilidade encontro proscritas fontes de informação, que me obrigam a ler a guerra civil síria como uma coisa que vai mais de fora para dentro. 

Como disse aqui há 3 meses, o regime sírio cairá. Não pela democracia (who cares?), nem sequer pelos interesses económicos, que, estando sempre por perto, perdem aqui relevância. Cairá porque, quem manda (de fora) precisa da Síria para chegar ao Irão. Pede-se à Síria que carimbe o passaporte para oriente. É esse, por agora, o seu único papel. E vai cumpri-lo.

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