A I República é um dos pedaços mais interessantes da nossa História Contemporânea. Desde a forma aventureira e quase romântica como os republicanos derrubaram a monarquia em 1910 (depois de terem já experimentado o sabor do poder no município de Lisboa), passando pelo fascinante desassombro na governação do país, até ao arremedo de ditadura fatalmente ensaiado por Sidónio Pais, aconteceu praticamente tudo em década e meia de experimentalismo republicano, incluindo uma guerra mundial.
Não
cabe aqui, obviamente, uma minuciosa viagem por tudo quanto aconteceu entre
1910 e 1926, mas há figuras e factos que nos merecem atenção particular e que
nos empurram até para um compensador mergulho neste desinquieto período da
nossa História.
Por
exemplo, a tenacidade e determinação dos republicanos no corte que fizeram com
o Portugal analfabeto e (quase) medieval que tinha entrado tranquilo pelo
século XX dentro, ainda hoje impressionam.
O
voluntarismo apaixonado e militante de Afonso
Costa é qualquer coisa de incomparavelmente intrigante. Foi o homem mais audaz
da I República, pela ousadia e coragem com que rasgou o trilho que achava necessário
a Portugal, mas foi também o político menos consensual. A ala mais radical do republicanismo
apelidava-o de “racha-sindicalistas”, por ter respondido com força aos
constantes levantamentos de trabalhadores do tecido operário lisboeta. Já a
Igreja, atemorizada pela laicização da sociedade em curso, pouco dormia e, quando o fazia, o pesadelo recorrente era precisamente
Afonso Costa, cuja ação afrontou o poder e o património de uma instituição
habituada a parasitar o sistema político. O susto foi tão grande que esta se
viu obrigada a criar um milagre nacional (Fátima) para reagrupar tropas e
cerrar (cegar?) fileiras.
Já
António José de Almeida era mais
homem de consensos. Ou, como se diria hoje, um “peixe de águas profundas”, característica que foi limando com a
idade e que lhe valeria mesmo a condição de único presidente a concluir o mandato
durante a I República. Criou um partido mais conservador/moderado, por já não
se reconhecer nos “excessos” de Afonso Costa, com quem se incompatibilizou tantas
vezes. O seu Partido Evolucionista podia já não ter o arrojo e a vontade transformadora das primeiras manhãs da República, mas representava a sua visão pacificadora de um país que
já mostrava claro cansaço do incessante rebuliço político.
Se
Afonso Costa seria hoje dificilmente enquadrável em qualquer partido do nosso
espectro parlamentar, António José de Almeida, por seu lado, assentaria como
uma luva num dos partidos do centro, onde conviveria mal, ainda assim, com
certos vícios dos que trazem recorrentemente os valores do republicanismo na
ponta da língua.
Quanto
a uma resposta concreta à pergunta/provocação do título que introduz este
texto, não consigo encontrá-la, por evidente dificuldade em descobrir
diferenças (na substância e no estilo) entre os dois maiores partidos (contando
o número de deputados) do nosso parlamento.
5 comentários:
Não consegues encontrar diferenças? Como é que a educação das crianças não poderia estar pelas horas da morte?
Este texto fez-me lembrar os confrontos entre entre o José Duarte e António Luís no Jornal de Penacova. E faz falta um jornal em Penacova. Tudo que é bom acaba nesta terra. Falta-nos falta um órgao de informação com consciencia critica. Agora só temos sites de divulgação dos eventos da camara.
E tanto que isso te dói, não é?
Isso significa qeu a câmara faz eventos!!!!
IHIHHIHIHIHIHHIH
Penso que com a chegada da República e com a laicização da nossa sociedade ficamos melhor..., só um cego não vê isso!...
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