Há pessoas que gritam ao telemóvel consoante a distância da pessoa que está a telefonar. O fenómeno não é novo, mas quando acontece numa viagem de autocarro Penacova-Coimbra, durante 33 minutos, ganha toda uma nova dimensão.
Começa logo no toque do telemóvel. É raro encontrar-se um toque normal, portanto, o toque é sempre uma mistura entre Tony Carreira e o camião do lixo. Depois atende, mas como se um papa-formigas lhe estivesse a mastigar os testículos. Passa logo de um normal "estou" para um "Estooooouuuuu".
E depois lá conversa com o outro que está do outro lado da linha, mas tudo muito alto, porque homem que é homem tem é de gritar. Depois vem a pergunta fatal: “Tou, estás-me a ouvir?” E surge um fenómeno que é a pessoa responder "não". Não percebe que o problema é haver pouca rede e pensa que é de estar a falar baixo. Começa a falar tão alto como falaria se recebesse uma chamada do Vietname."Estou, e assim já ouves? Também não? Tou?” E a chamada vai abaixo.
Eu nem sou muito de acreditar em Deus porque cai-me sempre o músculo, mas percebi que foi ele que fez com que a chamada terminasse. Já agora vou sentado ao lado dum senhor com o bigode cheio de caldo verde.
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