O BURACO DO CALHAU E SEUS ESCAVADORES

Vista aérea e quase geral da ilha, obtida a 11 mil metros de altitude, podendo ver-se, à esquerda, a área urbana do Funchal que conta com mais de 150 mil habitantes. Pode ver-se o Aeroporto por baixo das nuvens, quase na "base" da foto. Ao centro, a rudeza das montanhas que se elevam a quase 1900 metros.

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Como é público aqui na Taberna estou, presentemente e de há dois anos para cá, a viver na região Autónoma da Madeira. Razões familiares e depois profissionais assim o provocaram.

Conheço bem a região, melhor até que alguns madeirenses nados e criados aqui. Tive a oportunidade de cumprir aqui parte do meu serviço militar há 20 anos atrás pelo que a minha visão e percepção da evolução desta região é, penso, lúcida e isenta.

A ilha não é grande. Tem, em linha reta, uns 60 km de comprido por uns km de 25 de largura máxima. Contudo, tem uma orografia verdadeiramente brusca. É possível passar do nível do mar até quase 1900 metros de altitude em meia dúzia de quilómetros.

Não há encostas suaves, há paredes de montanha com muitas centenas de metros de altura, quase na vertical.

Conheci a ilha há 20 anos, como referi e do Porto Moniz, localidade situada no extremo Noroeste da ilha, ao Funchal demoravam-se quase 3 horas de automóvel para percorrer cerca de 90 km de curvas e contracurvas, subidas a 1600 metros e descidas quase ao nível do mar, serpenteando as abruptas montanhas e enfrentando a péssima visibilidade em altitude provocada pelas nuvens que quase em permanência envolvem a ilha..

Hoje a distância cifra-se em 50 km e demora 40 minutos a fazer, através de túneis e viadutos que fazem da ilha uma espécie de queijo!

As obras públicas na Madeira são caríssimas. Não é a distância, mas o tipo de construção que as onera. Túnel-Viaduto-Túnel que são as "armas" para vencer a difícil orografia desta terra com eficácia. E claro, pagam-se caro!

Mas o cidadão do Porto Moniz tem o mesmo direito de chegar ao Funchal em 40 minutos como o cidadão de Lisboa tem de ir ao Porto em duas auto-estradas à escolha, falando-se até de uma terceira, para além de ter, também, a linha férrea... Mas isto não se diz quando se fala no buraco que os governos nacionais escavaram metodicamente ao longo dos últimos 20 anos e que o colocaram à beira da bancarrota.

Um desgraçado que viva em S. Jorge, na parte Norte de ilha não tem o direito de ter um Centro de Saúde aberto durante a noite para o tratar, se possível sem precisar de ir à capital, subindo e descendo montanhas e demorando hora e meia, faça chuva ou sol?

Depois, assisto com alguma estupefação a "comentadores" que nunca cá puseram os pés, a falar com a maior descontração de uma realidade que não conhecem, sendo por isso facílimo, porque até na moda, bater no desgraçado do madeirense e do seu chefe de banda Alberto João Jardim(AJJ).

Não me custa admitir (porque não é mentira) que o PPD/PSD-Madeira se confunde com o "Estado-Região" como aliás acontece com o PS e com o PSD (à vez) aí no continente. O problema é, conceda-se, de escala!

Também não me custa admitir que há vícios instalados, compadrio, "fundações", direções regionais que são autênticos sacos sem fundo, como aliás, repito, acontece no continente. O problema é, de novo, de escala!

Depois, dá-me vontade de rir que haja gente muito indignada com a dívida da Madeira e com o famigerado "buraco" da região. Gente, alguma dela devidamente encartada nos partidos que governaram o país nos últimos 20 anos, com destaque para o PS (responsável por bem mais de metade desses 20 anos...) que trataram de alimentar o buraco e respetivos escavadores, por mais mal que dissessem do "mal educado" Alberto João Jardim e dos seus tiques de ditador.

Sempre foi fácil, depois, vê-los a todos a beber ponchas, de brindes em riste, nas tascas da zona baixa do Funchal ou nos passeios higiénicos à Serra d'Água!

Há muita hipocrisia à solta e, portanto, é fácil responsabilizar Alberto João Jardim pelas desgraças nacionais, falando em independência e afins, por ser ele o rosto desta revolução que se operou na ilha e correspondentes pecados.

Não sou madeirense, não conheço Alberto João Jardim nem o PPD/PSD da Madeira, não é esta a minha terra, estou cá de passagem e por isso estou à vontade para escrever sobre o que vejo e percebo, sem ter de lamber as botas deste ou daquele, prestar vassalagens ou arrotar postas de pescada só porque a moda e a desculpabilização o impõem.

O que dá a ideia é que se está a centrar o problema do buraco das contas nacionais, devidamente escavado, já o disse, nos últimos 20 anos,  no buraco das contas da Madeira. O buraco existe, até AJJ o admite (!), mas há muita gente não inocente que ajudou a que ele se escavasse.

Depois, por muita berraria que se faça no continente e na oposição aqui do "calhau", já votei por três vezes aqui na região e juro pela saúde dos meus filhos que não tive em nenhuma delas qualquer agente do governo regional da Madeira a apontar-me uma pistola, obrigando-me a votar o PPD/PSD. Votei sempre em quem quis, tal como tenciono fazer a 9 de Outubro nas eleições regionais.

Depois delas, seja qual for o resultado, prometo que vos volto a escrever sobre o que se cá passa!

As coisas, aqui, têm o mesmo grau de imperfeição e gravidade que têm no continente. A diferença assenta na escala e a velha máxima aplicável no retângulo é válida também aqui. Podem mudar-se as moscas, mas o buraco que elas escavam na "dita cuja" permanece e aprofunda-se, devidamente alimentado por toneladas de hipocrisia e alguma ignorância!

 Vista das montanhas da ilha. Foto obtida a 1500 metros de altitude.