Uma das memórias mais lisas que guardo de Penacova está cheia de Pinheiros.
Pinheiros esguios e majestosos que cobriam
doi escrever no passado
a serra e a faziam local de postais pintados em tons de verde e castanho, os fetos de verde claro por cima da caruma castanha a fazer de tapete aos bichos terrenos, o vento a murmurar os segredos do tempo na copa dos pinheiros, o balanço controlado das árvores, os vasos com resina a amparar as feridas que se esvaem num sangue espesso, os motoserras longe, abafados pelo confuso eco dos vales, a chuva mansa de abril
podem-se contar os pingos da chuva de Abril um a um e depois fazer contas de somar
as ventanias de Novembro e por baixo das copas o dia mais escuro, sempre o barulho do vento, o silêncio de máquinas, o apito do comboio da Beira-Alta
quando o vento de Norte a soprar frios
as sirenes das fábricas de Souselas
quando o vento de Sudoeste anunciava a certeza da chuva
no alto da serra as paredes de pedra dos moinhos quietas e mudas, a imaginar velas, moleiros, burros presos nas argolas também presas às paredes de pedra quietas, comiscando ervas e mato, o milho a cair um grão de cada vez, paciente no seu caminho rumo a duas pedras que se esfregam sem dó
mós
como o moleiro cá fora a controlar a força do vento nas velas
não a falar com S. Pedro por via de o acalmar, mas empurrando a imensa trave que desvia a vela do rumo soprado do vento e acalma as mós
com a certeza sempre dos pinheiros a descer as encostas da serra, como se os seus troncos nascessem do manto de fetos verdes e depois castanhos quando secos e tudo a mudar de cores e no verão as pinhas a estalar, conversando no alto das copas umas com as outras sobre ao calor que as faz dilatar os corpos, a sombra sempre certa por baixo, os miúdos a encher sacos de pinhas, os tractores e antes carros de boi carregados de caruma e mato e os animais nos currais a adivinhar cama e soalho novos, as coisas todas certas, os ritmos traçados por anos e porque os pinheiros eram certos e estavam lá e não falando diziam tanto.
Agora, contemplando a serra há silêncio sim mas de ausência, ainda com o vento a passar por cima do chão e a evaporar a poeira das pedras cinzentas e também elas mudas de céu destapado, não interessando o vento se de Norte
e o comboio da Beira-Alta
se de Sudoeste e a chuva
e as fábricas de Souselas mudas porque também elas ausentes
miúdos distantes não com sacos porque o chão vazio de pinhas e sim nas playsation, tractores a marcar pneus na largura dos caminhos e os animais também não nos currais, não adivinhando cama nova e sim cortados às fatias nas prateleiras do supermercado, adivinhando grelhas com brasas, temperos e dentes, com vista para uma serra agora de não pinheiros.
9 comentários:
Que lamento nestas palavras...a agonia de um passado que não volta...a tristeza mascarada de uma alegria que não aparece e as árvores...as árvores do nosso encanto, desaparecidas pelas doenças importadas e pela solidão a que não conseguem sobreviver. De vez em quando, textos sem ironia e profundos no HDT. Parabéns!
e, e, e oooohhhh Sr. António e deite aqui um jarro de tinto e um pica-pau pra mesa faz favor...gluuupgluuup, gluuupgluuup, aaaaaahhhhh...olhe, andei ali com o Rui Leão, da Zarroeira, e com o Joaquim Mulher, de Vale da Serra, a sulfatar e a desramar as videiras na sorte que eles têm lá pás bandas do Lavradio, pois nesta fase de mudança de estação é que se tem de preparar a vinha pós rigores do Verão. Enfim, malta nova, cheia de força e de vontade, que merece ser orientada pa por esta terra a produzir mais e melhor...gluuupgluuup, gluuupgluuup, aaaahhhhh...ainda se vão bendo por ai uns exemplos (poucos...) de alguma malta nova cum amor à terra e, e, e...eghhh uuup e isso é bom, é bom porque isto num tá certo ber por ai esses campos todos a monte!
Na altura de atacar a bucha inté falamos dessa desgrácia do bicho do pinheiro, filho da mãe limpou-me duas matas de pinheiros que tinha ali no Vale das Corgas, mas já disse à minha Ofélia que, que, que temos de tirar uma semana pa reprantar as sortes que lá temos...pois intão aquilo assim como está é que num rende nada, nadinha...gluuupgluuup, gluuupgluuup, aaaaahhhh...e espero que agora cum estas mudanças pensem no mesmo lá pá Serra do Buçaco, pois aquilo é uma mata de interesse Nacional (é uma Reserva Eculógica – ou lá como se diz isso -, uma riqueza nacional que num pode ser desaproveitada...). Ele há dias disto, daquilo e demais aculoutro e, e, e...eghhh uuup e façam um dia da reflorestação por esse País fora (é preciso incentivar as pessoas a olhar pá nossa floresta...) pa aproveitar esses terrenos ardidos e essas matas levadas pelo bicho. Odespois chamam a TV pa demonstrar às pessoas que, que, que aquilo é serviço público que, que, que Portugal necessita pa criar riqueza e diminuir a nossa dependência dos oitros, pois num se esqueçam que, que, que temos de cumprir cum as exigências de quem nos empresta a massa (na humilde opinião deste velho bêbado e acabado, sem nos desfazermos daquilo que são as nossas raízes...)...gluuupgluuup, gluuupgluuup, aaaaahhhh...vou indo inté casa ver o nosso slb no futsal...alguma coisa temos de ganhar este ano. Raiosesparta esses andrades, pó ano tiramos-lhe alguns jogadores das modalidades e cum o reforço do nosso plantel a ir de vento em poupa, as coisas vão birar...o nosso Jesus sabe o que faz...gluuupgluuup, gluuupgluuup, aaaaahhhh...
Fica o convite. Se quiserem participar, é só manifestarem a vossa disponibilidade. Talvez seja possível agendar para quando o António Luís por cá estiver. Fico à espera de participantes. Vamos passar das palavras as actos. Para mais informações sigam:(http://www.penacovactual.com/2011/06/portugal-bike-tour-pelos-trilhos-da.html).
Este comentário do P Actual deve ser para rir. Os taberneiros já fizeram mais por Penacova do que mil e uma iniciativas inconsequentes com esta de andar de bicicleta no meio da serra.
Anónimo das 14:03!
Devemos respeitar as iniciativas positivas!
Não lhe fica bem essa crítica!
Caro A Luís,
Não o conheço pessoalmente mas aprecio muito a sua prosa (bem como a do José A Duarte), pelo que me custa não ter compreendido o alcance do meu comentário das 14.03. Quem, como eu lê, o comentário do Penacova Actual fica com a ideia de que vos querem colar o rótulo "falam, falam...", o que é injusto. Acreditem (posso testemunhá-lo) que as vossas hironias e críticas já fizeram mudar algumas coisas nesta terra, ao contrário de iniciativas que reafirmo vãs e que se esgotam na inútila satisfação de quem as promove.
Os meus cumprimentos
Quem admira a natureza, torna-se frustante olhar a paisagem. Todos nós temos o dever da participação na reflorestação.
Mas também queria que nos dissessem, se aqueles "balurdios" que os compartes recebem não deveriam ser utilizados para esse fim. Sim, porque é inadmissível ver esses dinheiros serem entregues a esta ou aquela população, quando olhamos e verificamos uma paisagem devastadora...
Quem fala assim não é gago! Porque raio é que essas povoações recebem dinheiro por terras que são de todos. Nunca entendi...Se os baldios são do povo, porque hão-de ser sempre do povo que está mais perto. Ainda por cima recebem o dinheiro e não gastam um tostão no sítio de onde ele veio.Coisas deste país...
Concordo.. É uma vergonha termos a serra neste estado e andarem a gastar o dinheiro dos baldios em iluminação pública no meio de terrenos agrícolas e nem uma obra digna se consegue fazer como o ambicionado lar para a freguesia de sazes..
A câmara deveria intervir para defender os interesses do município de modo a reflorestar a Serra do Bussaco.
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