terça-feira, 4 de janeiro de 2011

LUZES E LAÇOS NUMA TERRA ETERNAMENTE DE NADAS

Nós taberneiros, frequentemente nos embrenhamos em pensamentos mais furtivos, daqueles que escapam ao azedume das ironias ou à dentadura dos sorrisos.
Quando as meninas regressam às suas casas, deixando para trás a taberna a luzir brilhos e odores a limpa multi-superfícies e ordeiramente mergulhada num silêncio de vales, o pensamento escorre-nos como quando se viram os copos de boca para baixo.
Saí da taberna, fechei a porta  e rumei ao carro.
A noite está fria, coisa de 3ºC e a vila está coberta pelo habitual nevoeiro.
As luzes de Natal, patrocinadas pelo brio camarário, provocam um clarão que se mistura com o laranja da iluminação pública.
Todas elas, muitas ou poucas, iluminam exactamente a mesma coisa. Nada.
A vila está, como sempre esteve, deserta. E nem sequer é demasiado tarde. 22.30h.
Não há um bar, um café, nada aberto. Não há jovens a conviver, nem um desgraçado de um cão para cortar com o barulho das suas patas, a monumental coluna de silêncio que embrulha o burgo.
O laço camarário, na sua condição espampanante, definha aos elementos e, certamente, nunca se chegará a saber para o que serviu. Se para prolongar o "entusiasmo" dos "entusiasmados autarcas", se para exibicionismo mais ou menos parolo e algo serôdio.
Quando há dias li a entrevista da Senhor Vereadora da Cultura ao único jornal impresso do concelho, subentendi um concelho em ebulição, culturalmente activo, com a vila, orgulhosa, à cabeça da agitação.
Mas a realidade "virtual", embrulhada ou não nas névoas do Mondego em conjugação com as luzes, não esconde a verdadeira realidade, aliás fria como a noite.
Penacova está exactamente na mesma, não adiantando, por isso, a exibição acrobática da senhora Vereadora em querer mostrar o que apenas existirá na sua cabeça, não negarei, cheia de boas vontades. Um evento a coberto de foguetório, pimba e derivados não faz mudar o que não muda por decreto ou declaração política.
Mas é preciso deixar o ensinamento propagandístico do mestre socialista que ???governa??? o país e perceber a realidade e agir em função dela e não de ilusões que laços de cetim ou mil luzes proporcionam. As almas socialistas de Penacova terão de perceber isso a bem de si próprias e do concelho que dizem querer transformar.
Tal como Sócrates mais tarde ou mais cedo terá de ver, a ilusão, sendo apetecível é, a prazo, tremendamente cruel.
...Não se deseja que seja demasiado tarde.

8 comentários:

Anónimo disse...

Os meus parabéns! Um dos melhores textos que já aqui vi escritos!!!
Um retrato realista e cruel do que somos enquanto concelho. Parabéns ao seu autor. Pelo há quem escreva bem em Penacova. Os taberneiros são os nossos verdadeiros "jornalistas" do concelho.

Continuem assim em 2011 e muito obrigado.

Anónimo disse...

Parabéns António pelo seu texto! É certo que, em tempos idos, a cultura não foi propriamente acarinhada e promovida no nosso concelho, mas não é aplicando a já gasta receita de "pimbalhada q.b." aliada a outros eventos mediocres mas "sabiamente" promovidos a "megafantásticos" que vamos melhorar. A realidade é que a actual vereadora, apesar de acreditar na sua vontade de fazer coisas novas, não é de todo, alguém com percurso/experiência nesta área. Mas este facto não serve de desculpa uma vez que quando não se sabe, há que ter humildade de o reconhecer e encetar esforços no sentido de se rodear de quem saiba!

António Luís disse...

Obrigado!

Anónimo disse...

Realmente um texto fantástico, que para quem conhece Penacova desde sempre, sabe que é a pura realidade.
Mas a culpa é de todos nós. Não é só à noite, acontece durante o dia.
Por acaso sou daquelas pessoas que faz compras em Penacova. Por estes dias comentava com uma amiga que tem uma loja em Penacova, que muito dos lojistas não se ajudam mutuamente, preferem fazer compras em Coimbra, ela confirmou. Secalhar o António Luís é uma das pessoas que prefere a cidade, deixando a Vila. É pena que assim seja.
Não acredito,quem quer que seja o Vereador da cultura, que traga algo diferente, a não ser naqueles dias que o próprio Município tem organizado.
Enquanto mais jovem, recorria aos concelhos vizinhos para as saídas, porque Penacova também nunca teve grande oferta nocturna.
Todos nós deveremos assumir essa culpa.

Anónimo disse...

esta mensagem não diz nada de nada o autor que aproveite o laço para se decorar , pois na pratica nada do que diz funciona

José António Duarte disse...

A inveja é um sentimento que nos corroi, caro anónimo. Não viva desse modo que será sempre uma pessoa infeliz. Para mim estamos perante o melhor texto alguma vez aqui publicado. E sabe o que faço quando leio uma coisa deste nível do meu amigo parceiro da Taberna. Tento igualá-lo, tarefa que se afigura difícil.

Apareça sempre.

António Luís disse...

Caro Anónimo das 17:47!

Obrigado pelos elogios!
A minha vida profissional faz com que esteja longe de Penacova. Mas sempre que me desloco ao continente, faço questão de ir a Penacova e este texto resultou de uma efectiva incursão nocturna pela vila, efectuada a 23 de Dezembro passado.
E não é pelo facto de neste momento não viver no concelho ou sequer perto dele que me inibe de emitir os meus juízos sobre a minha terra. O pensamento, até ver, ainda não paga impostos e é livre!

Caro Anónimo das 20:15!
Volte sempre!

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Pegando em alguns dos comentários. Se a Vereadora se rodeasse de alguem com capacidade logo seria acusada de despesismo. No dia 23 de Dezembro à noite, caro A. Luís, os unicos movimentos de pessoas que se viam por todo o País, eram nos shoppings. Como o de cá não é minimamente apelativo e está localizado num sitio que Deus me Livre é normal. E escusam de falar em crise. Este ano, o dinheiro levantado em ATM's e pagamentos em lojas, superou em 9% os valores de 2009.

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