quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

ALBANO PIRIQUITO VEM À TABERNA EXPLICAR A MINI-HÍDRICA

Albano Piriquito, habitante corado do Caneiro, veio até aqui à Taberna.
Sentou-se numa mesa perto do balcão e com um estalo de dedos chamou a Marlene anunciando:
- Menina, chame-me aí o gerente disto!
Como estava de serviço ao balcão, fui ter com o senhor Piriquito.
Um homem baixo, de faces vermelhas, boné meio de lado, num xadrez miudinho, castanho e cinzento, um cordel a fazer de cinto nas calças, uma aba de camisa de fora e a falta de dois dentes  que lhe faziam assobiar as palavras
- António, num é?!
eu
- Ora bem, diga lá naquilo do computador que esses gaijos do goberno que querem fazer aquela merda do num sei quê da hídrica - não sei palavras difíceis - que são uma cambada de incompetentes. Atão andem a gastar rimas de dinheiro com a escada para as lampreias no açude de Coimbra e agora as desgraçadas vão  chegar ao Caneiro e bater com os cornos na mini num sei quê - num sei palavras difíceis - andamos a brincar ou quê?! E diga ao presidente da câmbra que se for preciso vamos para lá com machados, forquilhas, motoserras e tractores. Desgraçados dos infelizes que botarem lá os pés para assentar um tijolo que seja!
Albano estava furioso. Mandei vir uma taça de tinto para o homem acalmar
- Mas há mais! Bote lá na internet que aquilo vai acabar também com os barquitos da juventude a descer o rio Mondego. Cambada de palermas! Num percebem que é gente que vem ao concelho apreciar a natureza. Cambada de palermas lá em Lisboa que só pensam em andar a f..er o pessoal que é pobre e trabalha, a criar problemas às pessoas.
- Acalme-se, senhor!
Albano Piriquito levantou-se da cadeira, entornou de um gole a taça de tinto. Vestiu o casaco coçado e velho, onde se viam pêlos de cão.
- É de um canito que tenho, o Jarbas que até é parecido aqui com o vosso Bagaço. Filha da Mãe do bicho é esperto e tem a mania de dormir em cima do casaco!
e saiu a murmurar sons cortados por uma tosse seca e com os dedos da mão direita a coçar o rabo por cima das calças de fazenda escura que vestia, acabadas por um par de botas de sebo, de solas gastas pela esquerda que um desvio na coluna lhe entorta o andar mas não a clareza do pensamento!

7 comentários:

O Cantoneiro disse...

Esta actual Câmara, pouco depois de tomar posse soube logo da intenção de construir a minihídrica mas calaram-se perante a voz do chefe de Lisboa. Agora que a oposição e as populações tomaram posição forte contra tal idiotice,logo vieram a correr para os jornais a dizer que tb estavam contra, pois poderiam perder o controlo da situação. Enfim, nada que nos surpreenda.

Anónimo disse...

Este cantoneiro dá vontade de rir.

Anónimo disse...

O que dá vontade de rir é o actual estado de governação do conceçlho e do país.

Anónimo disse...

Este texto, para além da crítica política que implica é mais uma bela peça literária do António Luís. E o José Duarte tb sabe escrever neste estilo, que já vi coisas dele escritas (nos tempos do Jornal de Penacova)com esta qualidade, ainda que no HDT tenha optado por uma via mais humorística e menos elaborada (mas sempre em grande nível!).

José António Duarte disse...

Muito obrigado pela parte que me toca, ainda que tenha pena de não saber quem faz tão generoso elogio.

satisfeito disse...

Parabens, pessoalmente gosto mais da actual critica e dos conteudos das noticias e respetivos comentários.talvez porque certas cores politicas se afastaram, a taberna começou a ser melhor frequentada?

António Luís disse...

Caros Anónimos das 13:36 e 16:06!

Não me gabem que me estragam!...

Obrigado!

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