sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O facebook sempre existiu numa aldeia perto de si

Imagem tirada daqui

A Rosário desceu a calçada. À cabeça, um feixe de lenha turva-lhe a vista para a casa da Maria da Luz, amiga de longa data. Decide parar para pôr a conversa em dia, pelo que poisa os paus junto ao portão da Conceição, uma das primas que tem emigradas em França.
- Maria da Luz!!! – chama a plenos pulmões.
E não foi preciso gritar uma segunda vez. A Luz aparece à janela da cozinha:
- Já foste à serra, mulher!? E eu sem sair de casa!
- Tinha que ser. Vou cozer broa antes do almoço.
- Olha, já te contaram do Zé Pedro?
- Do Zé Pedro!!? Não. Não sei nadinha…
- Diz que o desgraçado levou uma amiga  lá p’ra casa, achas bem?
Rosário leva a mão ao avental azul escuro e, inclinando ligeiramente a cabeça, limpa a testa suada antes de responder:
- Eu sei lá se acho bem ou se acho mal…ele enviuvou, é um homem livre…
- Ai eu cá não gosto disso! A Justina ainda nem arrefeceu no cemitério…
- Deixa lá isso, Luz. Até lhe faz bem. O homem tem andado tão em baixo. A irmã dele disse-me há dias que ele nem lhe deu os parabéns quando ela fez anos.
- A Eduarda!? Coitada. E o que ela tem feito por ele. Não merecia isso.
- Então, se calhar esqueceu-se, acontece a todos.
- Está bem, mas se anda assim tão mal que fale com os amigos. Não precisa de meter mulheres lá em casa…
- Lá estás tu outra vez, Luz. Deixa o desgraçado em paz. Até parece que estás enciumada!
- Eu!!? Estás parva ou quê! O meu João se te ouve…
Abeirando-se novamente da lenha encostada à parede, Rosário decide abortar a conversa:
- Pronto, olha, tenho que ir acender o forno. Só parei mesmo para não te esqueceres do Terço, logo à noite na capela.
- Já começa hoje? Está bem, vou de certeza.
E foi mesmo. Até porque precisava de partilhar tudo quanto não lhe dizia respeito.

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