segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A TATUAGEM DO TATUADO


     - Quero uma caveira rodeada de rosas vermelhas e por trás de tudo, uma cruz! Fica valente e todos me vão invejar!
Tatuado gosta de coisas que dão estilo e definem o portador da coisa. Na terra todos o conhecem que as casas não são assim tantas e as ruas tem sempre fim à vista, mesmo que a vista se prenda em algumas casas velhas ou na irregularidade das pedras da calçada.
Ali em baixo o pai agarrado a uma enxada a tratar da horta, para o Tatuado uma casa de horrores mas sem paredes, que a agricultura é para os totós
     e portanto o pai totó!
alfaces, tomates, batatas e nabos só no supermercado. Estão ali, coloridos, limpos, lustrosos, sem uma pinta de podre, quase plásticos e é só estender a mão. 
Na terra, pequena, (já) muitas casa rodeadas de relva, onde os seus donos garbam cortadores da dita, uma ou outra piscina, arte de pedra em forma de águias, leões ou dragões conforme a cor do clube da bola, na garagem carros para a toda a família ir comprar fósforos ao café, que os pés ganham calosidades quando andam muito, e porque se revela o pouco ou muito aforro e a vergonha
e anos mais tarde o cardiologista
     - Tenha juízo e mexa-se!
que o que interessa hoje é se o carro prolonga pelo seu aspeto o status, o órgão sexual ou o recheio da conta bancária.
Tatuado, aos 45 anos, olhando a tatuagem da caveira em rosas e com cruz, vocifera ao pai já não na horta, já sem enxada porque ambos já noutra dimensão, que o não chamou para a horta e o não ensinou a mexer na terra
     a agricultura mesmo que na horta agora já não para totós!
e no supermercado já não alfaces, já não tomates nem batatas e nabos, porque os outros muitos tatuados as levaram e claro está porque as hortas eram casas de horrores mas sem paredes onde os pés e o corpo tatuato do Tatuado havia jurado não se sujar jamais!


3 comentários:

Anónimo disse...

Brutal, sem espinhas! Cada vez há mais tatuados, furados e "brincados"!

Anónimo disse...

Excelente!
A arte da escrita!
O António Luís é o "Zé da Fonte" das palavras de Penacova.

Anónimo disse...

Concordo em pleno!

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