No canto da taberna I ensaia a apresentação da sua obra prima A metafísica da verdade. Declama com ar afectado, ensaia alguns passos, inclina a cabeça, fecha os olhos e imagina os aplausos...
I - "Não há consolo nenhum na palavra metafísica. A metafísica raramente se engana e raramente tem dúvidas."
Taberneira - Os Is são absolutamente destituídos de capacidade de ganhar dinheiro. O pensar não põe comida na mesa e a comida é um bem supérfluo.
I tosse, inclina a cabeça e continua - "Só exemplos frutuosos transformam boas ideias em negócios rentáveis, a produção metafísica dá lugar a produtos de elevado valor acrescentado. "
I sente-se o espírito mais brilhante do século, como foi possível tamanha lucidez, dá uma pirueta na corda bamba e precipita-se para a lupa, ligeiramente inclinada para a palavra F, e emocionado, extraordinariamente iluminado e atento, exclama - Oh, que horror, claro que teria de me lembrar da boa disposição da finança.
I dá uma reviravolta angelical e escreve afincadamente durante alguns minutos, sorri feliz e contente. Regressa à declamação ensaiada de pé, com trejeitos iluminados pelo brilho intenso das palavras - "Portugal pode reforçar o seu lugar na Europa, para tal tem de preencher um formulário que demonstre ser capaz de constituir um governo novo, com pensamento político impróprio. Um governo que assuma um compromisso sério para combater a economia, reduzir as prestações sociais, modernizar-se, vigiar os gastos dos funcionários público-privados, apertar o cinto e valorizar as acções. Este é o nosso amanhã que canta."
I impressiona-se com o dramatismo do seu pensamento, olha, entre águas, veias e nervos, sim, entre algo, algo há-de deslumbrar. Tosse enojado com um conteúdo tão pouco solidificado e... faz uma vénia. Sorri, está confiante. Senta-se, por fim, na mesa do canto e descansa o intelecto no vinho do Porto do produtor.
Taberneira - Os Is têm a mania de inventar desrealidades e a crise da desrealidade está mesmo aqui.
Alecrim aos molhos - Deve ser por isso qu'acabámos de assistir a uma pequena pérola palavrosa. Hum, faria um sucesso no cesto de papéis do...
Zé Manel - bardamerdas.
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