sábado, 25 de junho de 2011

ENCONTROS NOS PASSOS PERDIDOS


Sempre me interroguei sobre a designação "passos perdidos", uma zona da Assembleia da República muito frequentada por deputados a congeminar as suas vidas e jornalistas curiosos à caça de "cachas" com vista a segurar os seus empregos que as redações são campos de batalha.
Imaginava os deputados ajeitando as gravatas, alinhavandos os cintos e recuando buracos porque as barrigas a inchar atrás das bancadas, com os jornais nela apoiados e as páginas a enrugarem-se e os deputados com pernas mas sem pernas porque em busca delas e dos passos que perderam e a correr atrás deles antes que se escondam por baixo das mesas dos gabinetes.
Ou então os deputados com pernas e passos sim, mas de ar perdido, a olhar para bússolas
    - deixa ver aqui onde é o Norte!
e as bússolas talvez avariadas, com a agulha às voltas malucas
    - em cima desta mesa é plano deve dar
e os deputados ainda perdidos a insistir
    - mas o Norte não é para aqui!
e antes o Sul e outros deputados sem bússolas, de mãos atrás das costas, dando passos lentos, com os olhos cravados no chão a pensar leis, a gizar frases para debitar das bancadas, contra o governo uns, a favor outros porque todos caninos na obediência, outros bebendo cafés e se a cafeína faz tremer bebem chás de várias ervas, limão e águas lisas e sem sabores, pelo meio de jornalistas de microfones apontados às suas próprias bocas primeiro porque perguntas a soltarem-se por baixo das línguas nervosas e depois às bocas dos deputados pedindo como os médicos de espátula em riste, estetoscópio pendurado, óculos na ponta do nariz e as vinhetas cheias de códigos de barras presas no bolso das batas onde bordado o nome
   Dr. Fulano Almeida
tenho a ideia de muitos médicos serem Almeida e os jornalistas, sempre com pressa de saber coisas
    - abra a boca.
e as bocas fechadas
    - abra mais, língua para fora!
assim?
    - Ok. Assim. Está tudo bem!
como o país está bem e sem cáries
   - o 3º molar é que...
e a dada altura um Engenheiro, estatura média, cabelo farto, oriundo de Penacova, novo nas lides do parlamento, azimutando lugares, contando os passos para não se perder de Passos perdidos, uma foto de Penacova no bolso do casaco que a saudade não mata mas mói.
_____
Nota: Parece que O Homem das Tabernas ultrapassou ontem os 100 mil visitantes únicos.
Não há foguetório porque somos modestos e a crise está brava...
Mesmo assim, obrigado a todos os que nos fazem querer continuar a ser, não melhores nem piores, mas seguramente diferentes!

3 comentários:

Amaral disse...

Sr. António Luís, já o vi escrever melhor e coisas com mais interesse...
Poucas pessoas em Penacova entendem o seu texto, eu incluido.Não se arme em escritor porque não é.

António Luís disse...

Caro Amaral!
Onde está escrito que sou "escritor"?
O Homem das Tabernas é um espaço livre, onde os taberneiros escrevem livremente, sobretudo no estilo.
Se não gosta ou não entende,outras pessoas gostarão e entenderão.
Não se pode nem consegue agradar a todos.
Obrigado.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Deixe lá, sr. António Luis, este costuma "vaguear" por outros blogs a dizer o mesmo!

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