terça-feira, 2 de julho de 2013

As treze maneiras de olhar um contribuinte

1
No meio de credores e especuladores gulosos
A única coisa em que mexeria
Era no bolso do contribuinte.

2
O contribuinte via as coisas de três maneiras diferentes,
Mas ele via-os como um poço sem fundo
Onde há muitos mais contribuintes.

3
O contribuinte rodopiava ao sabor dos ventos de Outono.
Era uma pequena parte da pantomima.

4
Um homem e uma mulher
São um contribuinte.
Um homem e uma mulher e um melro
São um contribuinte.

5
Não sabia qual preferir,
A beleza das especulações sonoras
Ou a beleza das insinuações especulativas,
O contribuinte a assobiar
Ou o Excel logo após.

6
Gotículas enumeradas cobriam o grande palácio de Belém
De vidros toscos.
A sombra do contribuinte
Cruzava-a, dum lado para o outro.
O estado de espírito
Desenhava na sombra
Uma taxa indecifrável.

7
Ó homens esguios de Bruxelas
Por que pensais em cidadãos dourados?
Não vedes como o contribuinte
Caminha à volta dos pés
De outros contribuintes perto de vós?

8
Sabia de previsões notáveis
E taxas lúcidas e inevitáveis;
Mas também sabia
Que o contribuinte estaria presente
Em tudo o que enumeraria.

9
Quando o contribuinte voou para fora do alcance da vista
Assinalou novas metas
Entre um ou muitos mais círculos.

10
Perante a visão de contribuintes
Voando enternecidos em torno de um subsídio,
Até os proxenetas da especulação
Haveriam de gritar com vivacidade.

11
Foi até Berlim
Num coche de vidro.
Uma vez, foi tomado de subserviência
Quando confundiu
A sombra da cadeira
Com contribuintes.

12
O rio corre.
O contribuinte deve andar a voar.

13
Anoitecia em cada instante da manhã.
As nuvens estimulavam o sol
E iam continuar a estimular.
E muitos contribuintes empoleirados
Nos ramos dos cedros.

Merecidamente dedicado a Vítor Gaspar, descaradamente roubado a Wallace Stevens (Treze maneiras de olhar um melro).

Sem comentários:

Related Posts with Thumbnails