quinta-feira, 22 de março de 2012

BÓIA - UMA MULHER NUNCA ESTÁ GORDA

Há dias, na caixa de correio da Taberna, uma carta, no feminino...
«Estou farta de fazer as mesmas dietas. Vejo apenas a carteira do médico a engordar à custa do que lhe pago e o resultado
     a barriga a dobrar-se por sobre o limbo das calças e das saias, quase como um lábio grosso, sem batom, feio até, por baixo das blusas, a espreitar metediço
a ser nenhum e até parece que estou mais gorda e o meu marido, a chegar do trabalho e antes de pousar as chaves, olhando-me e depois, por entre a respiração e um beijo de fugida
     sempre que pode, escapa-se...    
 a imortalizar as palavras, como se elas numa lápide de cemitério e eu eu já não cá
- Esse vestido está-te apertado, devias alargá-lo!
e uma mulher nunca está gorda, apenas mais volumosa e se naqueles dias do mês, ainda mais volumosa e nunca gorda que as palavras são como agulhas a picar
     e já nem os vestidos, pá, parece até que me puseram uma bóia à cintura e como eu sei nadar, por isso a bóia não necessária
e só Deus sabe como já não como pão e muito menos manteiga e se como é daquele integral, seco e peco, cheio de cereais com nomes impronunciáveis e que as padarias inventaram no afã do negócio, cereais que desconhecia existirem e de que desconheço também as plantas que os originam, os filhos a correr e de repente a tropeçarem nas palavras do pai e sim
- Mãe, esse vestido está-te apertado!
e a bóia, o que faço à bóia, se a rebento doí e se não rebento as costuras do vestido a darem de si, a costureira solene e quase a medo
- A senhora está mais cheinha!
     não gorda que as palavras picam e uma mulher nunca está gorda
as calças que não entram, as palavras do marido e os filhos a tropeçarem nelas porque não cabem atrás das portas nem por baixo dos tapetes e por isso nos corredores, aos cantos e o médico que não acerta, a minha boca que não se lhes fecha, as vassouras que não as varrem,o aspirador que não as chupa
     uma mulher tem desejos e depois!?...
e juro que é desta que vou conseguir, com médico ou sem médico, o marido mudo, os filhos a andarem de bicicleta nos corredores porque as palavras imortais já atrás das portas, debaixo dos tapetes como grãos de pó, porque cabem, por terem encolhido e se não atrás das portas na barriga do aspirador, no plano da pá depois de empurradas pela vassoura e o pão de cereais a sério,
     trigo, centeio e milho
controlado e a boca respeitosa, obediente, a bóia a encolher, as costuras do vestido respirando alívios, o marido já não a imortalizar palavras, muito menos em lápides porque eu cá, depois (querer) pegar-me pela cintura, apontando-me prazeres e eu já com a bóia esvaziada
     sei nadar, juro que sei e a bóia é nada
a natação, os filhos de riso largo e sim
- Olá mãe, fica-te bem esse vestido!
e uma mulher que usa o travão de mão, o que vai para a boca e lhe leva coisas que a ansiedade, as rotinas e os vazios imploram, com o médico sozinho a vender milagres, pendurado em apreensões que o fumo dos cigarros desenham no consultório, porque a carteira dele encolhe enquanto a minha engorda ou pelo menos não emagrece ao contrário de mim.»

(c) António Luís - 2012

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro A. Luís, escreva coisas que interessem, por favor... O senhor consegue fazer melhor que isto, com todo o respeito.
Não tem interesse nem piada e a maioria das pessoas não entende.
Obrigado.
AS

António Luís disse...

Caro AS!
Um comentário feito numa palavra apenas: CEREJAS
Obrigado.

Anónimo disse...

Este texto é mauzinho, A. Luís, realmente você é capaz de melhor.
A taberna está a perder qualidade

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