«Estou farta de fazer as mesmas dietas. Vejo apenas
a carteira do médico a engordar à custa do que lhe pago e o resultado
a
barriga a dobrar-se por sobre o limbo das calças e das saias, quase como um
lábio grosso, sem batom, feio até, por baixo das blusas, a espreitar metediço
a ser nenhum e até parece que estou mais gorda e o
meu marido, a chegar do trabalho e antes de pousar as chaves, olhando-me e
depois, por entre a respiração e um beijo de fugida
sempre que pode, escapa-se...
a imortalizar as palavras,
como se elas numa lápide de cemitério e eu eu já não cá
- Esse vestido está-te apertado, devias alargá-lo!
e uma mulher nunca está gorda, apenas mais volumosa
e se naqueles dias do mês, ainda mais volumosa e nunca gorda que as palavras
são como agulhas a picar
e já nem
os vestidos, pá, parece até que me puseram uma bóia à cintura e como eu sei nadar,
por isso a bóia não necessária
e só Deus sabe como já não como pão e muito menos manteiga e se como é daquele
integral, seco e peco, cheio de cereais com nomes impronunciáveis e que as padarias
inventaram no afã do negócio, cereais que desconhecia existirem e de que
desconheço também as plantas que os originam, os filhos a correr e de repente a
tropeçarem nas palavras do pai e sim
- Mãe, esse vestido está-te apertado!
e a bóia, o que faço à bóia, se a rebento doí e se
não rebento as costuras do vestido a darem de si, a costureira solene e quase a
medo
- A senhora está mais cheinha!
não
gorda que as palavras picam e uma mulher nunca está gorda
as calças que não entram, as palavras do marido e
os filhos a tropeçarem nelas porque não cabem atrás das portas nem por baixo
dos tapetes e por isso nos corredores, aos cantos e o médico que não acerta, a
minha boca que não se lhes fecha, as vassouras que não as varrem,o aspirador
que não as chupa
uma
mulher tem desejos e depois!?...
e juro que é desta que vou conseguir, com médico ou
sem médico, o marido mudo, os filhos a andarem de bicicleta nos corredores
porque as palavras imortais já atrás das portas, debaixo dos tapetes como grãos
de pó, porque cabem, por terem encolhido e se não atrás das portas na barriga
do aspirador, no plano da pá depois de empurradas pela vassoura e o pão de
cereais a sério,
trigo,
centeio e milho
controlado e a boca respeitosa, obediente, a bóia a
encolher, as costuras do vestido respirando alívios, o marido já não a
imortalizar palavras, muito menos em lápides porque eu cá, depois (querer) pegar-me pela
cintura, apontando-me prazeres e eu já com a bóia esvaziada
sei nadar, juro que sei e a bóia é nada
a natação, os filhos
de riso largo e sim
- Olá mãe, fica-te bem esse vestido!
e uma mulher que usa o travão de mão, o que vai
para a boca e lhe leva coisas que a ansiedade, as rotinas e os vazios imploram,
com o médico sozinho a vender milagres, pendurado em apreensões que o fumo dos cigarros desenham no consultório, porque a carteira dele encolhe enquanto a
minha engorda ou pelo menos não emagrece ao contrário de mim.»
(c) António Luís -
2012
3 comentários:
Caro A. Luís, escreva coisas que interessem, por favor... O senhor consegue fazer melhor que isto, com todo o respeito.
Não tem interesse nem piada e a maioria das pessoas não entende.
Obrigado.
AS
Caro AS!
Um comentário feito numa palavra apenas: CEREJAS
Obrigado.
Este texto é mauzinho, A. Luís, realmente você é capaz de melhor.
A taberna está a perder qualidade
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